segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amarok

nacional
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KAREN CAMACHO
da Folha Online

O novo presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, no posto há menos de três meses, disse em sua primeira entrevista após assumir o cargo que a empresa trabalha com objetivo de crescer 7% no faturamento neste ano e deve ficar em segundo lugar em vendas, focando no mercado interno. A empresa apresenta hoje o Novo Golf, primeiro lançamento na gestão de Schmall.

Após oito anos no vermelho, a empresa fechou 2006 com pequena margem de lucro, em um ano marcado por cortes de pessoal, queda na produção e nas exportações e ameaças de fechamento de unidades. Agora, a montadora alemã quer acelerar os investimentos, traça estratégias para concorrer com a China e quer lucro substancial ao final deste ano.

Raimundo Pacco/Folha Imagem
Presidente da Volks no Brasil, Thomas Schmall, diz que não há problema em "decisões duras"
Presidente da Volks no Brasil, Thomas Schmall, diz que não há problema em "decisões duras"
Schmall disse que uma empresa como a Volkswagen deve ter o mercado nacional como base para suas vendas, não a exportação. "Ninguém sabe o que vai acontecer por causa do cambio. É preciso manter liderança no mercado nacional. Se o câmbio estiver a nosso favor, vamos atender o máximo possível [do mercado externo]", afirmou.

Para ganhar a preferência do consumidor brasileiro, Schmall aposta em qualidade e investimentos em novos veículos. A empresa lança dois modelos em 2008. "'É preciso adaptar o carro para o mercado nacional. Carro mundial não existe. Os clientes são diferentes, o ambiente é diferente."

O executivo afirmou que o objetivo da empresa é fechar 2007 em segundo lugar em market share, subindo uma posição em relação a 2006, mas que retornar à liderança levará mais tempo. "Meu objetivo é deixar a empresa sustentável. Vamos liderar, mas não a curto prazo para não quebrar a empresa. Como? Com produto, o que falta é produto", afirmou.
Schmall disse que tem três objetivos em sua administração, melhorar os produtos, tornar mais eficiente o processo de produção para garantir bom resultado e fortalecer a equipe.

O plano de investimento da empresa para o Brasil anunciado no ano passado, de R$ 2,5 bilhões até 2011, deve ser acelerado e ter ações antecipadas, mas não deve se encerrar antes de 2011. Schmall não fala mais em corte de custo ou de pessoal e acha que a administração de seu antecessor, Hans-Christian Maergner, foi importante porque preparou "terreno para a construção da casa".

Exportação

Schmall disse que a pressão do câmbio, com a valorização do real frente ao dólar, derruba a vantagem do custo baixo de produção, entre 20% e 30% em relação a Alemanha, mas que o carro brasileiro ainda é competitivo e dá lucro na exportação.

Se o câmbio ficar mais forte, no entanto, a empresa terá de reduzir mais as vendas externas, afirmou Schmall. Em 2006, a Volks exportou 33% da produção, mas chegou a 40%.

Os principais mercados consumidores atendidos pela Volks são Alemanha, China e Brasil, nessa ordem.

Sobre a concorrência dos carros chineses, que começam a invadir o mercado de veículos e são considerados uma "tsunami" pela Anfavea (associação das montadoras), Schmall disse que reconhece que o país será um dos primeiros do mundo em produção de veículos, mas aposta na criatividade e na inovação dos nacionais como vantagem para enfrentar os concorrentes. "A única chance de sobreviver é com conteúdo, dar valor ao cliente", afirmou.

Perfil

O alemão Thomas Schmall, 43 anos, é formado em administração e economia e está na empresa desde 1991. Casado com uma brasileira, morou no Brasil de 1999 a 2003, quando dirigiu a unidade da Volks de São José dos Pinhais (PR). Nos últimos anos trabalhou na Eslováquia.

Com um perfil mais despojado do que seu antecessor, Schmall tem um cuco na sala e cobra "multa" de R$ 30 dos executivos que se atrasam para as reuniões agendadas, denunciado pelo toque do relógio. "Quem manda é o cuco", brinca. O dinheiro, que não informou em quanto está acumulado, pretende doar no fim do ano

thomas schmall

Quando Thomas Schmall assumiu a presidência da Volkswagen do Brasil, há três anos, encerrava-se um ciclo. Para trás, havia ficado uma reestruturação em que esteve ameaçada de fechamento a histórica fábrica de São Bernardo. Para frente, as perspectivas eram boas.
Foi o que aconteceu. A VW se recuperou, retomou a dianteira em automóveis e disputa a liderança com a Fiat, que só se mantém em primeiro com a soma de comerciais leves. Prestes a ser lançada, a picape média Amarok é a grande aposta da Volks para virar o jogo.
Schmall agora prepara um novo planejamento da montadora para os próximos dez anos. Em suas metas, a previsão de alcançar 1 milhão de carros no mercado brasileiro em 2014, o que representará 25% das vendas. Para isso, anunciou investimento de R$ 6,2 bilhões para ampliar a capacidade e lançar novos produtos.
Casado com uma brasileira, o jovem executivo alemão, de 45 anos, disse que, no ano em que a fábrica da Anchieta comemora oficialmente 50 anos, não gostaria de receber, mas sim de dar um ‘presente'' aos funcionários da planta de São Bernardo, que se reinventou e passou a ser importante para os planos da VW no Brasil e na América do Sul.
AUTOMÓVEIS - No ano em que a fábrica de São Bernardo completa seu cinquentenário, qual o presente que o senhor gostaria de ganhar?
THOMAS SCHMALL - Eu não gostaria de ganhar nada. Meu desejo é dar um presente aos nossos funcionários porque acho que foi um excelente trabalho nestes 50 anos. Saímos do ponto em que estávamos sob o risco de fechar para uma posição bem melhor. Se você visitar hoje nossa fábrica de São Bernardo do Campo vai encontrar outra realidade. Parte dos R$ 6,2 bilhões que anunciamos será investida no Grande ABC.
AUTOMÓVEIS - A fábrica da Anchieta pode ser considerada como a melhor da Volkswagen no Brasil?
SCHMALL - A maior produtividade que temos hoje no Brasil é na fábrica de São José dos Pinhais (Paraná). Em São Bernardo do Campo, nós temos dificuldades de ajustes em razão das estruturas mais antigas. Mas os avanços que a fábrica da Anchieta conseguiu são maravilhosos.
AUTOMÓVEIS - Os recursos que vocês vão investir são gerados no Brasil?
SCHMALL - Vai vir dinheiro de fora também. Uma parte é daqui, mas não o suficiente para fazer 100%.
AUTOMÓVEIS - A Volkswagen está fazendo um fundo mundial para financiar fornecedores. Com isso, a empresa sinaliza que precisa crescer a capacidade. O senhor diria que estes novos investimentos seriam aplicados para ampliar a capacidade?
SCHMALL - Capacidade não vale nada se você não tem produto. Por que nós soltamos fogos de artíficio com novos produtos no ano passado e neste ano? Nós fizemos o lançamento do Voyage e do Gol em 2008. Em 2009, tivemos o novo Fox, a Saveiro, ao todo 16 novidades. Isso garante crescimento. Por isso, o investimento que vamos fazer será equilibrado entre produto e capacidade. O nosso planejamento não é só para o ano que vem - é para os próximos cinco, dez anos. O investimento que eu fizer hoje você só vai ver os resultados em dez anos. Eu posso estar aposentado em dez anos (risos).
AUTOMÓVEIS - Em 2010, a Volkswagen fará quantos lançamentos?
SCHMALL - Em torno de dez. Mas ainda não estão fechados. Nosso objetivo era fechar em torno de 30 lançamentos entre este ano e o que vem. Então falta um pouquinho para esta conta fechar.
AUTOMÓVEIS - Como a Volkswagen vai atingir o posto de maior fabricante mundial de automóveis em 2018, batendo a Toyota?
SCHMALL - A nossa estratégia mundial está clara e definida. O nosso chefe anunciou dois anos atrás que vamos trabalhar forte para ser o número 1 no mundo. Nós próximos cinco anos, vamos lançar 47 produtos no Grupo Volkswagen.
AUTOMÓVEIS - Na estratégia traçada pela Volkswagen no Brasil, a liderança do mercado passa por automóveis e comerciais leves?
SCHMALL - Eu acho que nós estamos no caminho certo. Nós começamos a liderar no segmento dos carros, que significa 80% da indústria no Brasil. Mantemos a esperança e vamos atacar com nossas novidades, como a nova Saveiro. Agora, com a chegada da picape média Amarok, temos uma chance concreta de, pela primeira vez, atacar comerciais leves também.
AUTOMÓVEIS - A Amarok vai ser suficiente?
SCHMALL - É um bom começo. Mas para cada reação, há uma contrarreação. Ninguém vai falar: ‘Olha, parabéns Volkswagen. Eu vou abrir o campo, fica livre aqui''. A concorrência reage também. Isso é uma disputa do dia a dia. Eu acho que, com a nova Saveiro, começamos bem. Não vamos parar.
AUTOMÓVEIS - Como vê as vendas da Saveiro?
SCHMALL - Ainda não dá para avaliar. Vamos ver no ano que vem. Em volume, a concorrência ainda está na nossa frente. Mas, na concepção da nossa rede, o carro caiu muito bem no gosto do consumidor.
AUTOMÓVEIS - Então a liderança só vem em 2010?
SCHMALL - Nós vamos atacar, mas de repente pode vir agora em 2009 com o sucesso de nossos comerciais leves. Em automóveis já dominamos. O que falta são comerciais leves. Vamos ver se a Amarok é suficiente. A liderança depende do volume de produção, curva de lançamentos e vendas, entre outras variantes. Mas nós temos uma boa chance.
AUTOMÓVEIS - Como o senhor explica o crescimento do market share da Volkwagen de quase dois pontos percentuais neste ano?
SCHMALL - Nós temos uma boa equipe e trabalhamos bem. O resultado da equipe vem dos nossos produtos, que combinam com o mercado. Têm aprovação dos nossos clientes.
AUTOMÓVEIS - Qual o balanço que o senhor faz do mercado brasileiro em 2009?
SCHMALL - Neste ano, a indústria crescerá mais do que 5%, já que o último trimestre de 2008 foi muito fraco, deixando a base de comparação favorável. Significa que temos a chance de atingir um patamar de 3 milhões de carros e comerciais leves até o final deste ano.
AUTOMÓVEIS - Qual o prognóstico para 2010?
SCHMALL - Eu avalio a possibilidade de um crescimento entre 3% e 6%. Eu acho razoável.
AUTOMÓVEIS - Qual vai ser a produção da Volkswagen no Brasil neste ano e quanto dela vai ser exportada?
SCHMALL - Isso depende ainda do comportamento do mercado. Neste ano a exportação simplesmente não existiu. Não é só um problema do câmbio, como em anos anteriores. Tivemos queda de 40% na Argentina e no México, dois mercados importantes para a Volkswagen do Brasil.
AUTOMÓVEIS - Em 2014, o senhor estima um mercado de 4 milhões de unidades no Brasil. Qual vai ser a fatia da VW ?
SCHMALL - Para cada quatro carros vendidos no País, um terá a marca VW, o que representará um share de 25%. Então, num mercado de 4 milhões, teremos 1 milhão.

victor e leo

Victor e Leo