Abu Dhabi – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou, neste domingo (05), um memorando de intenções com a Abu Dhabi Investment Authority (Adia), maior fundo soberano do mundo. “O documento prevê a troca de experiências e informações para explorar oportunidades de investimentos recíprocos [entre o Brasil e o emirado]”, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que foi até Al Ain, no interior dos Emirados Árabes Unidos, para a assinatura do acordo.
O chefe da Divisão Internacional do BNDES, Paulo Roberto de Oliveira Araujo, que acompanhou o ministro, disse que o objetivo do memorando é criar um relacionamento institucional entre os dois órgãos e identificar possibilidades de cooperação em projetos de interesse comum. Tais empreendimentos podem ser realizados no Brasil ou fora dele.
O banco firmou, em janeiro, um acordo semelhante com a Qatar Holding, braço executivo do fundo soberano do Catar, quando o emir Hamad Bin Khalifa Al Thani esteve no Brasil.
A assinatura do memorando foi o último compromisso de Jorge na missão comercial que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) promoveu ao Oriente Médio. Ao longo da última semana, representantes de cerca de 70 empresas brasileiras realizaram encontros de negócios com empresários da Síria, Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados.
Alexandre Rocha/ANBA Schahin (E), Lubna e Jorge na capital dos Emirados
Antes, no início da tarde deste domingo, Jorge teve uma reunião com a ministra do Comércio dos Emirados, Lubna Al Qasimi. Juntos, ele fizeram a abertura da rodada de negócios, que se estendeu por toda a tarde.
A ministra destacou que pretende ir ao Brasil no próximo ano. “O maior interesse é fazer promoção comercial, mais ou menos o que vocês fizeram aqui”, afirmou ela, referindo-se às atividades da missão.
Lubna, que, além da reunião com Jorge, fez um discurso na abertura da rodada, ressaltou que o Brasil se tornou um grande fornecedor de alimentos aos Emirados, além de empresas dos dois países terem parcerias em áreas como material de construção, indústria automotiva, móveis e decoração. Ela acrescentou que mais negócios podem ser desenvolvidos no setores de turismo, energias renováveis, entre outros.
A ministra disse que alguns produtos brasileiros são bastante conhecidos no mercado local, como os alimentos da Sadia. Ela contou também que granito azul brasileiro foi utilizado na construção da Mesquita Xeque Zayed Bin Sultan Al Nahyan, a terceira maior do mundo e um marco de Abu Dhabi, capital dos Emirados.
Alexandre Rocha/ANBA Mesquita Xeque Zayed tem granitos brasileiros
Lubna disse ainda que a Emirates Airline, que tem um voo diário de Dubai para São Paulo, tem plano de aumentar as freqüências. “Isso terá impactos diretos e indiretos no comércio”, concluiu.
Avaliação
Entre os empresários que integraram a delegação, a avaliação sobre a missão foi positiva. “A missão como um todo foi excelente”, disse Paulo Roberto Costa, da MGR, empresa de granitos do Rio de Janeiro. “É um país de muito potencial”, declarou ele sobre a Arábia Saudita. “Lá tem muitas obras e terá mais ainda com a Copa de 2022”, acrescentou o empresário sobre o Catar.
Segundo Ronan Moreira da Silva, da mesma empresa, a qualidade e os tons das pedras da MGR estão de acordo com o gosto regional. “Cores pastel, tons claros e beges são a tônica da região”, destacou. “E temos uma grande variedade dessas cores para oferecer”, ressaltou.
Sílvio Paixão, da Aquamare, que desenvolveu um sistema de purificação de água do mar para consumo humano, elogiou a organização da missão. “A missão é um primeiro passo na caminhada para se tornar fornecedor [da região]”, afirmou. “Vou precisar vir aqui várias vezes”, disse, ressaltando a necessidade de se criar um relacionamento pessoal para fazer negócios no mundo árabe.
Ele está em busca de dois tipos de negócios. O primeiro é exportar a água que, embora purificada, conserva 63 minerais. Ele oferece também um refresco feito com a água dessalinizada, flor de hibisco e gengibre.
O segundo é o licenciamento do próprio equipamento para produção da água na região. Ele não está interessado, porém, em vender a tecnologia, apenas em ceder o uso em troca de royalties. “Eles precisam muito de água”, declarou Paixão, acrescentando que, apesar da grande oferta do produto engarrafado, seu sistema tem a vantagem de tirar o gosto de sal e de mar, mas deixar “o que a água tem bom”.
Já Denizy Alves, da Govidros, de Goiás, contou que a organização a ajudou muito nos contatos. Ela ainda não exporta e participa do programa 1ª Exportação do governo federal. “Tomara que eu comece [a exportar]”, declarou.
Ela acrescentou que existe demanda para seus produtos, que são vidros para construções, mas teve dificuldades nas rodadas, especialmente por causa de contatos marcados que não apareceram. Mesmo assim, a empresária vê potencial de negócios em algumas conversas que teve.