segunda-feira, 21 de março de 2011

Wilson Quintella Filho - reinado no mundo do lixo

De negociador de soja ao reinado no mundo do lixo
Wilson Quintella Filho, presidente da Estre: trajetória passa pela direção de uma das maiores tradings de soja ao aterro
17/08/2010 14:19
"Você só vira lixeiro por falta de alternativa". Quem não conhece Wilson Quintella Filho até poderia acreditar que, diante da resposta dada sem pestanejar, teria sido de fato a falta de alternativa a razão de ser da Estre Ambiental, criada há onze anos. Afinal, ele gosta de contar que estava quebrado na época, com sua trading de soja.

Mas, aos 56 anos, Quintella brinca com sua história. Com um jeito de expressar-se randômico, difícil de acompanhar na velocidade com que expõe suas ideias e projetos, ele não deixa passar a piada e diverte o interlocutor, enquanto deixa revelar-se uma vocação impulsiva para criar negócios e seu instinto de oportunidade: "Ninguém tinha percebido, mas era um negócio de pura logística".

E sobre logística aprendeu antes de perder dezenas de milhões de dólares nos anos 90, com revés do mercado de soja que levou ao fim da sociedade dos amigos José Cutrale, maior produtor de suco de laranja do mundo, e seu pai, Wilson Quintella, que fora durante 30 anos braço direito de Sebastião Camargo na presidência da Camargo Corrêa. Cutrale não gostou de operar em um negócio de acirrada competição com multinacionais e riscos elevados como naquele momento, em que os produtores decidiram não entregar soja aos preços pelos quais as companhias tinham comprado e revendido a safra antecipadamente.

Em apenas três anos de existência, a trading Cutrale Quintella chegou a exportar 1,5 milhão de toneladas de soja e teve que investir em logística para escoar o produto. Colocou barcaças no Rio Tietê, construiu portos fluviais, arrendou terminal no Porto de Santos e teve de investir na compra de sete locomotivas e 350 vagões porque a Rede Ferroviária Federal e a Fepasa não tinham recursos para garantir o transporte de tanto produto.

Sem a trading, Quintella foi trabalhar no GP Investments, do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. De lá assumiu a direção da Constran, a construtora remanescente dos problemáticos negócios do empresário Olacyr de Moraes. Foi uma das poucas pessoas que ficaram ao lado de Olacyr quando ele já estava quebrado. Ele e a sobrinha de Olacyr, Gisele Moraes, que, financiada pelo tio iniciou timidamente com Wilson o negócio da Estre, com um primeiro aterro sanitário em Paulínia. Quintella, que de início tinha só 20% do negócio, foi aos poucos aumentando participação até chegar a 84% do capital.

O desafio, onze anos atrás, era achar cliente, quando o lixo industrial de qualquer natureza, mesmo os mais tóxicos, encontravam um fim no rio mais próximo ou em qualquer solo. Os amigos do GP não viram tanta vantagem no negócio, mas deram uma chancela importante à recém-nascida: o carimbo da Ambev. A empresa foi um dos primeiros grandes clientes a destinar seu lixo aos aterros da Estre.

O bom relacionamento de Quintella Filho no mundo empresarial - herdado do pai, mas em boa parte vindo da facilidade de fazer amigos - ajudou os negócios da Estre. Mas o trabalho para conquistar clientes para uma empresa de lixo foi árduo. Se a ideia inicial era de pura logística, logo ele percebeu que a atividade transcendia o recolhimento dos rejeitos. Montado o aterro em Paulínia, segundo seus amigos, Wilson dizia: "E agora? colocamos uma placa de aqui seu lixo é feliz, e os clientes aparecem?"

Inquieto e sempre em busca de alternativas, Quintella alugava helicópteros para identificar terrenos contaminados, ou mandava seguir caminhões de lixo. Essa era a nova parte do negócio. Ao identificar os terrenos, ele mesmo denunciava o caso à Cetesb e em seguida oferecia os serviços aos donos dos terrenos. Os clientes desconfiavam da estratégia, mas mesmo assim foram fechando negócio com a Estre. Uma década depois, Quintella se orgulha dos clientes que conquistou e se prepara para uma nova etapa com a Haztec. Mas já tem o futuro em seu campo de visão: transformar lixo em óleo combustível.

Ficção é ficção, mas em geral a fonte de inspiração vem do mundo real. Neste caso, o negócio e a personagem viraram a fonte de inspiração de Silvio de Abreu, autor de Passione, a novela das oito da Globo. Antes do início das gravações, os atores desembarcaram no aterro de Paulínia para se familiarizar com o mundo do lixo.

Mas Olavo, o rei do lixo na novela, interpretado por Francisco Cuoco, tem pouco a ver com o rei do lixo do mundo real, que passa boa parte do tempo em viagens pelo mundo descobrindo aproveitamentos, máquinas e novas tecnologias para, literalmente, transformar lixo em dinheiro. O negócio visto pelo prisma do aproveitamento do lixo, e não mais pelo do aterro sanitário, seria o único em que os fornecedores da matéria-prima pagam para entregar o produto, no caso o lixo, para quem vai transformá-lo e ficar com o resultado de sua venda. (JG)

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