quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Damasco

Síria vai investir US$ 45 bilhões em cinco anos

Recursos vão principalmente para infraestrutura, segundo informações divulgadas no fórum empresarial Brasil-Síria, realizado em Damasco. País árabe quer negociar acordo com Mercosul em seis meses.
Alexandre Rocha, enviado especial alexandre.rocha@anba.com.br
Damasco – O governo da Síria aprovou recentemente um plano que prevê investimentos públicos de US$ 45 bilhões nos próximos cinco anos, informou nesta terça-feira (30) o vice-primeiro ministro para Assuntos Econômicos do país, Abdallah Dardari, no fórum empresarial Brasil-Síria realizado em Damasco. Do total, US$ 30 bilhões vão para a área de infraestrutura, empreendimentos como rodovias, ferrovias, aeroportos e geração de energia.
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Dardari: projetos são de interesse das empresas brasileiras


Dardari acrescentou que o programa prevê ainda investimentos em educação, proteção social, redução da pobreza, produção agrícola e irrigação. “[O plano] está muito próximo dos interesses das empresas brasileiras”, disse ele a uma platéia de empresários, diplomatas e representantes dos dois governos. A ideia é que companhias do Brasil aproveitem as oportunidades de negócios criadas pelo plano.

A visita a Damasco é a primeira etapa de uma missão comercial ao Oriente Médio organizada pelo ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MDIC), liderada pelo ministro Miguel Jorge. “Existem possibilidades de fortes parcerias entre os empresários [brasileiros e sírios]”, declarou Dardari.

Ele acrescentou que, além dos aportes de dinheiro público, a Síria espera atrair US$ 50 bilhões em investimentos privados, nacionais e estrangeiros, nos próximos anos.

Livre comércio

Jorge destacou que mais negócios podem ser gerados com a criação de um tratado de livre comércio entre a Síria e o Mercosul. O tema foi discutido durante a visita que o presidente do país árabe, Bashar Al Assad, fez ao Brasil em julho. O ministro brasileiro ressaltou que um acordo quadro, que oficialmente dará início às negociações, será assinado em 16 de dezembro. Ele disse ainda que a intenção é finalizar as negociações em seis meses.
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Jorge: Brasil está aberto para ampliar importações


Dardari declarou à ANBA que acha possível cumprir o prazo, pois há boas relações políticas e culturais entre as duas partes, e o acordo de livre comércio do Mercosul com o Egito foi firmado nove meses apenas após o início das negociações de fato. Ele acrescentou que não deve haver grandes resistências do setor produtivo sírio por receio da concorrência dos produtos do bloco sul-americano.

“Abrimos a economia para os produtos árabes, turcos e iranianos e vimos que podemos competir. Não vemos problemas em abrir o mercado [para o Mercosul], se lá os mercados também serão abertos”, destacou o vice-primeiro ministro. Na mesma linha, Jorge ressaltou que o Brasil está disposto a “ampliar muito” suas importações da Síria.
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Schahin: empresários têm que trilhar caminho aberto


De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, as exportações brasileiras à Síria devem chegar a US$ 500 milhões este ano, ao passo que as importações de produtos sírios devem ficar em apenas US$ 5 milhões.

“O acordo [de livre comércio] vai criar oportunidade para ampliar muito [a balança comercial]”, declarou Jorge. “A Síria terá acesso privilegiado aos mercados do Mercosul”, acrescentou o embaixador brasileiro em Damasco, Edgard Casciano.
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Empresários em rodada de negócios


Schahin afirmou que os governos dos dois países estão definindo os caminhos para o aumento das relações econômicas bilaterais, agora falta os empresários “seguirem esse caminho”. Apesar do crescimento do comércio nos últimos anos, ele ressaltou que “não há notícias” ainda de investimentos recíprocos e que as parcerias público-privadas na área de infraestrutura podem ser uma maneira de viabilizar isso. “Devemos buscar as oportunidades de cooperação e negócios”, disse.

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Schahin e Akhras (D) assinam ata do conselho
O tema foi discutido mais cedo em reunião que Jorge, Schahin e Casciano tiveram com o presidente Sírio. Schahin contou que Assad está muito interessado em fortalecer as relações com o Brasil em várias áreas e que a Síria pode servir de caminho para as empresas brasileiras chegarem a outros países do Oriente Médio, especialmente o Iraque. “Existem muitas oportunidades na área de infraestrutura, e o presidente [Assad] gostaria que as empresas brasileiras trouxessem seu know-how, tecnologia e financiamentos. No setor agropecuário também”, disse.

Outro assunto tratado com Assad, de acordo com Jorge, foi a eliminação da necessidade de vistos para entrada nos dois países, a começar pelos empresários.

Conselho

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Dervixes rodopiantes no Khan Asad Pacha
No seminário, foi assinada a ata de criação do Conselho Empresarial Brasil-Síria, que terá Schahin como presidente do lado brasileiro e o empresário Tarif Akhras como sua contraparte no lado sírio. Akhras lembrou que haverá, em abril de 2011, um fórum empresarial Mercosul-Síria.

Após o seminário, foram realizadas rodadas de negócios entre os empresários dos dois países. Cerca de 70 companhias brasileiras fazem parte da delegação do MDIC, e 130 empresas sírias se inscreveram para participar do encontro.

Na segunda feira à noite, Dardari ofereceu um jantar à delegação brasileira no Khan Asad Pacha, hospedaria aberta em 1749 pelo então governador otomano de Damasco, Asad Al Azem. A iluminação especial, a música e as apresentações de um grupo folclórico e de dervixes rodopiantes deram ao evento um ar de Mil e Uma Noites. A missão brasileira segue ainda nesta terça-feira para o Kuwait. Depois vai passar ainda por Catar, Arábia Saudita e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

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